Archive for Author Ivete

Morador de rua

Há meses, ao me deslocar de automóvel pelo bairro, observo uma mulher gorda, negra e que aparenta em torno de uns sessenta anos de idade. Sentada em uma cadeira de praia, com uma mala e inúmeros sacos plásticos, ela alterna os locais de permanência, dependendo, se é dia ou noite, em portas de estabelecimentos comerciais, lojas, restaurantes, lavanderia.

Em uma manhã fria de outono andando a pé, a vi de perto pela primeira vez. Ela estava na mesma cadeira, enrolada em um cobertor. Ao pressentir minha passagem, ela descobriu o rosto, e por breve momento, nossos olhares se cruzaram. Logo em seguida, ela se cobriu e impediu contato. Parei ao seu lado e como ela não se moveu, me senti verdadeiramente intrusa, invasora, e segui meu caminho. » Read more

Recordações: a visita e os sobrinhos

canudinhosTempo de férias, de convivência com sobrinhos, agora adultos, estimulou boas recordações de travessuras na infância. Entre as muitas lembranças essa teve destaque.

A família dos anjinhos, então com cinco e sete anos, os preparou para uma esperada visita de parentes que viviam em uma cidade do interior. A mãe fez várias recomendações para que causassem boa impressão. Foram orientados a cumprimentarem os tios, educadamente, e não atrapalharem a conversa dos adultos. Deveriam permanecer no quarto brincando, sem barulho ou brigas, e só  retornarem à sala quando fossem chamados para as despedidas. Tudo entendido? O “sim” em coro da dupla indicava compreensão plena de como deveriam se comportar. » Read more

Um canto de Natal

passarosAtravessou a cidade para o ritual de final de ano e pela primeira vez sem a companhia de seu pai, vencendo com dificuldade o desejo de desistir. Diante da conhecida loja de plantas e flores seu coração acelerou ao recordar o abraço afetuoso que seu pai sempre reservava ao amigo, dono da loja. O amigo também partira nesse mesmo ano e imaginou que o abraço deles agora devia se concretizar em outra dimensão. Reconheceu no atendente, filho do dono, o mesmo olhar e sorriso do pai, embora estivesse presente uma tristeza, até então, desconhecida. O silêncio de ambos expressava a cumplicidade do sentimento, o partilhamento da mesma saudade. » Read more

Prato Predileto

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Programou um almoço com um amigo querido. Ele em recuperação de pequena cirurgia, que ainda requeria cuidados e atenção, sugeriu que o almoço fosse na casa dela. Ela não se recordava de qualquer elogio recebido nas suas poucas aventuras culinárias e o velho fogão, com mais de 30 anos, era menos um eletrodoméstico e mais uma peça de decoração. Embora insegura com a proposta, resolveu enfrentar o desafio. » Read more

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