Dia de João

O solstício na Europa gerou a festa pagã de culto aos deuses da natureza, realizada ao redor de uma fogueira. Segundo o mito grego, o deus Adônis era disputado por Afrodite (deusa do amor) e Perséfone (deusa dos infernos).Zeus apaziguou a disputa entre as deusas, determinando que Adônis viveria metade do ano com Afrodite à luz do sol, e a outra metade com Perséfone, nas trevas.

A vida de Adônis com as deusas correspondia aos ciclos das plantas. Vivia, com Perséfone, a morte delas  durante o outono e inverno, e o renascimento, com Afrodite, na primavera e verão. O marco da renovação, do renascer da natureza, da mudança no ciclo de Adônis, era comemorado no dia 24 de junho.

O cristianismo substituiu o deus Adônis por João, um pregador que vivia às margens do rio Jordão. João anunciou a chegada de Cristo, filho de Deus, que viria para renovar as coisas no mundo. Ele anunciou Cristo seis meses antes do Natal, data de seu nascimento. Foi o último profeta e batizava as pessoas no rio Jordão. Seu nome era João Batista; João  aquele que batiza.

A fogueira pagã era acesa para espantar os maus espíritos. A partir de João ela anuncia o nascimento. Foi a mãe de João, que já era idosa quando engravidou, que ao contar a Maria de sua gravidez, prometeu informá-la do nascimento de João com uma grande fogueira. Foi assim que Maria visitou mãe e filho, orientada pela fumaça da imensa fogueira.

A história de João, do anúncio de boas novas e renovação, me faz lembrar de cenas da minha infância. João era o pai de um casal de amigos queridos, casado com uma professora. Sua fala era macia, de um caipira do interior e na sua presença era impossível ter pressa ou afobação. Sempre havia um “causo”, uma história, que ilustrava a boa prosa. Possuía um caminhãozinho e rodava pela cidade, realizando entregas de mercadorias e distribuindo, graciosamente, simpatia.

Dia 24 de junho era um dia especial para ele e toda a vizinhança. Era data de acender fogueira para anunciar seu nascimento e também dele preparar, como ninguém, um delicioso quentão. Todos que o iam cumprimentar pelo aniversário, recebiam, como agradecimento uma deliciosa dose da bebida. Homens, mulheres e crianças se deliciavam. O tratamento ele era doce, amigável, repleto de gratidão, regado a histórias que tornavam o momento inesquecível. Anualmente esse era um ritual rigorosamente cumprido. Cada um de nós apreciava, lentamente, aquele delicioso sabor que somente seria apreciado, novamente, no ano seguinte.

Para o pensamento pagão nesse dia brindava-se o fim das trevas e o início de boa safra. Na crença cristã, a comemoração era o reconforto de boas novas para um novo tempo. Para os amigos e vizinhos desse João especial, era dia de brinde e sabor de um quentão especial, repleto de afeto e doçura no seu preparo.

Anos se passaram, a distância disse não e nunca mais encontrei o João. Ficou a lembrança da doce criatura e da poção mágica que aqueceu, na infância, meu coração. Até hoje, nas comemorações das festas juninas, especialmente no dia de São João, ele sempre vem a minha memória, a lembrança da fala macia, do seu sorriso acolhedor e do delicioso gosto daquele quentão.

Já experimentei grande variedade dessa mesma bebida, com diversas fórmulas nas suas preparações. Fecho sempre os olhos e espero pelo sabor. Mas, em vão. Nenhum se compara àquele, e o que permanece é sempre o gosto da saudade.

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2 comments

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