Cumplicidade

Ao nascer quem não respira, morre.O antigo equilíbrio é substituído por sensações de frio, fome e dor. Chorar é a única arma para pedir ajuda e conseguir atenção. A curiosidade orienta as descobertas. Rostos aparecem e desaparecem, tal como o peito, que mobiliza o sugar e a deliciosa sensação do leitinho quente escorrendo pela boca e garganta. Como é bom sentir braços que embalam, aquecem, oscilando em cadenciado ir e vir. Quem não é único na jornada, precisa aprender esperar a vez da atenção e se fazer notar. » Read more

Vida em comunidade

Há algum tempo, morar em casa, de uma rua determinada, propiciava a convivência entre os vizinhos, que estimulava o estreitamento de relações. Brincadeiras de rua entre as crianças, adultos com cadeiras nas calçadas e longas conversas no final da tarde. Compartilhava-se os dramas da vida, a alegria das festas, a solidariedade na doença e o luto na morte. O pertencimento era um sentimento comum nas ruas da cidade. Cada morador era parte de uma comunidade, partícipe de uma grande família. As desavenças eram mediadas sem que os elos afetivos fossem rompidos. A moradia era ocupada, por décadas, pela mesma família. A permanência no mesmo local, era estimada em gerações e gerava nas pessoas a consciência da importância de um bom convívio. » Read more

A idosa, o jovem e o cachorro

Viviam em cidades distantes e décadas de cultivo de uma sincera amizade. A distância física não impedia a proximidade afetiva. Eventualmente viajavam para se encontrarem. Agora, a amiga mineira ia ser operada e a paulista programou-se para acompanhá-la e apoiá-la. O filho da mãe mineira, morador em terras paulistas, ofereceu carona para a longa viagem de automóvel. » Read more

Morador de rua

Há meses, ao me deslocar de automóvel pelo bairro, observo uma mulher gorda, negra e que aparenta em torno de uns sessenta anos de idade. Sentada em uma cadeira de praia, com uma mala e inúmeros sacos plásticos, ela alterna os locais de permanência, dependendo, se é dia ou noite, em portas de estabelecimentos comerciais, lojas, restaurantes, lavanderia.

Em uma manhã fria de outono andando a pé, a vi de perto pela primeira vez. Ela estava na mesma cadeira, enrolada em um cobertor. Ao pressentir minha passagem, ela descobriu o rosto, e por breve momento, nossos olhares se cruzaram. Logo em seguida, ela se cobriu e impediu contato. Parei ao seu lado e como ela não se moveu, me senti verdadeiramente intrusa, invasora, e segui meu caminho. » Read more

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